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terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Contos Curtos Quase Escuros - Os malefícios do amor

Apaixonara-se por ele, sem se dar conta, uma progressão lenta que acabou num disparo no dia em que descobriu que o incómodo, os suores, as insónias, a boca semi-aberta, as lágrimas e os risos nervosos eram a revelação do seu enamoramento.

De inicio ele era diminuto, nada acrescentava à sua existência nem lhe retirava causa aos problemas, mais um que engordava o número dos que já conhecía, apático na alteração da sua vida e tão pouco lhe achava graça ou quimica que a levasse a perder tempo a anlisá-lo e encaixá-lo nalgum grupo fisico, um homem, banal, se estalasse os dedos não se lembraría mais dele, tería que pedir várias vezes a sua descrição para conseguir moldar a imagem.

Não se deu conta, repita-se, foi um leite que num ápice levantou fervura e entornou-lhe por dentro a serenidade, a respiração controlada, as falas pensadas mas aos poucos ele surgiu um bocadinho ali outro acolá, uma piada elegante, um gesto delicado, um silêncio revelador e encantou-se, passou a dispôr dos seus olhos para o ver melhor e já em lobo nasceu o macho que a arrebatou numa luz azulada de cobalto enquanto lhe puxava os cabelos docemente.

Deu-se. Entregou-se. Permitiu-se todas as palavras, todos os sentires, todo o obsceno privado.

E quando se deu conta estava apaixonada pelo personagem que criara para a sua estória entregue à editora já fora de prazo.

12 comentários:

Arábica disse...

Gas,


onde andará o corpo que cabe na perfeição do personagem ?


Seremos nós personagens fora de prazo de uma história que nunca se contará? :)


Boa estória a tua :)


Beijos

Gasolina disse...

Arabica,

Poesia. Pura poesia. Ninguém é perfeito e por mim ainda bem. Que coisa chatinha se fosse.

O corpo anda por aí, em duas, três pessoas, aquelas que nos preenchem no amor, na amizade, no riso, no silêncio.

Quanto ao fora de prazo... tantas vezes me sinto assim. Atrasada ou adiantada no tempo certo... Mas é só poesia, acredita.

Um beijo

Patti disse...

Um perigo, o vazio da vida.

Adorei o "(...) já em lobo nasceu o macho que a arrebatou (...)".

Gasolina disse...

Patti,

Tristemente perigoso.

Obrigado pelas tuas palavras.

pin gente disse...

nunca de apaixonei desta forma... com o passar do tempo.
o amor é-me sempre "anunciado" quase no primeiro encontro. clic

mas pela boca morre o peixe, não é?
portanto não posso afirmar que assim será para sempre.

beijo pelas palavras, muito bom conto

poetaeusou . . . disse...

*
que estranho amor,
,
ou não . . .
,
conchinhas
,
*

Laura Ferreira disse...

Eu apaixono-me assim por cores, músicas, cheiros, livros, pessoas e animais.
E como tão bem dizes, entrego-me, parmito-me tudo e apaixono-me.

Mais uma vez, querida Gasolina, tiras as palavras escondidas de mim...

Um beijo

pront'habitar disse...

um pequeno conto perfeito.


seria, talvez, uma experiência interessante ter uma paixão por uma personagem de livro ou te peça teatral. nunca tive...

por estrelas de cinema sim, era um bocado mais novo. são personagens igualmente construídas, fictícias. construídas umas vezes pelo que delas imaginamos, outras vezes pelo que delas lemos, ou pelas duas coisas. mas mesmo imaginadas podem desiludir-nos.

um beijo

Gasolina disse...

Pin,

A paixão aparece das formas mais estranhas até se despertar para o que está a acontecer.

E nas artes do amor é melhor não dizer a palavra nunca...

Obrigado, beijo grande L

Gasolina disse...

PoetaEuSou,

Estranhíssimo.
Para mim impensável, presença fisica é fundamental e amra conceitos não é amar pessoas.

BEI/de MARÉ

Gasolina disse...

Laura,

Creio que nisso somos muito, muito parecidas.

Fazer tudo e dar tudo com paixão. Mas a grande questão é que se espera que connosco ajam na igual medida...

Beijo com uma abraço forte em ti

Gasolina disse...

Pront'habitar,

Perfeito porque é feito de letras.

Engraçado... nunca tive paixões por actores, cantores. O meu coração sempre se prendeu a pessoas dificeis, estranhas, desviadas, tudo o que fora condenável e dito "anormal".

Teoria do fascinio do abismo...

Mas desilusões, creio que aparecem em todas, em todos.

Beijos