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quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Crónicas de um Bazófias - 1ª

Quando lá chegámos éramos três. Quando saímos de lá contavam-se quatro. Mas eu entretanto aprendera a ler e a escrever e as invenções que confessava às bonecas para elas dormirem começaram a ter corpo e tudo se dimensionou de outra forma.

O primeiro ninho foi montado em Eiras, Estrada de Eiras.

Um ermo: Não havía luz para além da da vivenda, não havía estrada mas havía garagem, só havía uma outra criança numa outra casa, afastada, para além de mim, mas havía campo, uma mata, um bosque pleno de árvores com quem falava.

Havíam botas ortopédicas de palmilhas que perdi sem conta, coelhos de todos os tamanhos, ratos, pombos, a cultura ornitológica do Pai, até raposas que fugíam de mim quando lhes gritava o nome.

Para mim foi ali que vim ao mundo porque é dali que me lembro pela primeira vez de mim.

É dali que me recordo dos cheiros da resina, da caruma e do tojo, do sabão, do perfume da Mãe, do contraste da terra para os cheiros da cidade quando descíamos até Coimbra.

Quando saímos de lá chorámos. Muito. Eu e os que de mim se revelaram.

28 comentários:

AnaMar (pseudónimo) disse...

Belo relato...

PURO AMIGO disse...

Olá, boa Noite
Obrigado pela preocupação pela minha pessoa, ah ah ah, isto está melhor.
Conheço bem Eiras e S, Apolónia, locais sossegados.
Amizade
Miguel

ASPÁSIA disse...

DEVE TER SIDO BEM BOM... ESSE PRINCÍPIO DE EIRAS COM BEIRAS, BEIRAIS... OS PRIMEIROS ARRUFOS COM AS ÁRVORES!
ESSES CHEIROS DO CAMPO QUE NOS TRAZEM A INFÃNCIA SAÕ INOLVIDÁVEIS.
NO CAMPO VIVI APENAS NAS FÉRIAS EM CASA DA TIA, MAS NUNCA ESQUEÇO CLARO.

PARECE-ME QUE VAMOS TER A AUTIBIOGRAFIA DO BAZÓFIAS??? É UM "DELES", CLARO!

BEIJÓFIA!

ASPÁSIA disse...

QUANTO ÀS BOTAS E PALMILHAS ORTOPÉDICAS, CHEGOU AGORA A MINHA VEZ... MAS COM SAPATOS. O NEUROMA DE MORTON A NÍVEL DO METATARSO...
MAS COM AS PALMILHAS ANDO SEM PROBLEMAS, POIS TAMBEM AINDA NÃO FIZ NENHUMA CAMINHADA DESDE QUE ISTO APARECEU... :(

marisa disse...

Encontro com o passado que não deixa de ser presente, não?
um beijo e um sorriso.
marisa

Teresa Durães disse...

recordações de vivências entre a naturza são tão boas! Também as tenho e também chorava quando me vinha embora

pin gente disse...

belas recordações... nesta 5ª feira de conto (eu só vim 6ª).

gostei
beijo

escarlate.due disse...

faltava muita coisa mas havia muitas mais :) são memórias como essa que não queremos perder :)

Anónimo disse...

Este texto é encantador!

Espero que tenhas uma boa semana!

:)

Beijo

Laura Ferreira disse...

Pois... perfumes, palmilhas, botas ortopédicas, coelhos, resina... quantos de nós não guardam recordações destas e tantas outras!

Senti-me de repente pequenina e sujei os dedos com resina e limpei-os ao peitilho dos calções.

Tu só podes ter tido uns calções de peitilho, querida Gasolina...

f@ disse...

O PASSADO SEMPRE PRESENTE DENTRO DE NÓS... E ESSE TEU EM SINTONIA COM A NATUREZA TEM ALGO DE BELO... MAGIA DE DUENDES...

bEIJINHOS DAS NUVENS

Abssinto disse...

As casas são como os amigos, nenhum deles é portátil nem cabe no nosso bolso. Que pena...

bj

Mateso disse...

A memória do tempo faz-nos "rescidos".
Que bom poder recordar.
Bj.

Gasolina disse...

AnaMar,

Olá.

Muito obrigado.

Gasolina disse...

Puro XIV,

Eiras mudou certamente.

Para mim um paraíso mas para a Mãe um deserto...
Outros tempos.

Gasolina disse...

ASPÁSIA,

TÃO PERTO DE COIMBRA E UMA VERDADEIRA PROVINCIA.

É VERDADE, EU PROMETI QUE DEIXARÍA OS BRAÇOS DO TEJO E ME ENTREGARÍA AO MONDEGO. AGORA É O TEMPO DO BAZÓFIAS E DAS SUAS HISTÓRIAS.

UM BEIJO JARDINEIRA

Gasolina disse...

ASPÁSIA,

NUNCA OUVIRA FALAR DESSE PADECIMENTO E NESTA SEMANA ÉS A SEGUNDA PESSOA QUE O REFERE.

DESEJO AS MELHORAS E BOAS CAMINHADAS.

(QUE TAL UM TAPETE VOADOR?)

Gasolina disse...

Marisa,

Nunca deixará de ser presente.
O muito que sou hoje devo-o a dois tempos da minha existência, um deles a minha infância em Coimbra. O outro, bom... quem sabe um dia conto sobre ele.

Um beijo para o Reno, um beijo para ti

Gasolina disse...

Teresa,

Foi mesmo um baque.
Claro, depois lá passou quando viemos para... Eu depois conto.

Gasolina disse...

Pin,

Todos os dias são bons para chegares e a Árvore te receber.

Beijo grande

Gasolina disse...

Escarlate,

Para uma menina não faltava nada.
Talvez outras crianças; mas a imaginação fabricou-as e rápido esqueci a falta.

Gasolina disse...

Bernardo,

Obrigado Querido Bernardo.
Sempre um doce.

Uma boa semana para ti também, leva beijo de mim.

Gasolina disse...

Laura,

Eram tantos aromas que me ficaram agarrados às mãos, à pele, à memória.

Pois tive!
Uns calções, umas calças (de fazenda, grrrr) e umas quantas saias de malditos peitilhos e alças que não me permitiam movimentar à vontade. Aquilo punha-me doida, enfurecía-me!

E à Mãe também quando eu aparecía toda descomposta...

Beijo Menina Laura Menina.

Gasolina disse...

F@,

É mesmo... eram duendes não eram?
Devíam ser, transformavam tudo em risos e brincadeira.

Ainda hoje me deixam feliz lembrar esses pedaços de mim.

Um grande beijo Menina das Nuvens

Gasolina disse...

Abssinto,

Tens toda a razão.
Mas as imagens que retive, as recordações enchem-me e essas transporto-as para todo o sempre.

Um beijo grande A

Gasolina disse...

Mateso,

Crescidos e pequeninos de novo.

Pegar nas letras que estão destinadas ao Mondego reavivou coisas que estavam adormecidas, passou tudo para a flor da pele.(Para, não à)

E soube bem e faz-me bem.

Um beijo e um abraço Querida Azul

o Reverso disse...

que bom, mas que tristeza e saudade sinto quando me fazes sentir cheiros e paisagens da minha infanciatão. algumas já nem existem, só na minha memória. umas perto de Abrantes, outras perto de Viseu.

mas todas lindas como as tuas.

os cheiros da terra, dos animais, do forno fora da casa, ali em cima antes de chegar ao pinhal,
do pão cozido...

já nada existe

e sinto sempre tristeza

como agora...

Gasolina disse...

Tri,

A mim também doem.
Mas não falar dessas lembranças,dos perfumes, dos meus olhos naquele tempo de menina, dos sons dos galhos sob os pés... ainda me dói mais.

Se para ti algumas paisagens desapareceram, para mim não é diferente.

Não é o mesmo, mas escrevê-las é senti-las de novo, um bocadinho só que seja. E fico melhor.

Um beijo.
Outro ainda, por sitios teus onde também passei.