Há palavras que expõem, descascam, desmantelam e até despem de rasgão. Não quer dizer que aleijem ou que levam o projéctil como recado, apenas sacrificam a beleza do caminho pela mensagem. Já fui cravejada por várias e nem por isso ajoelhei no tremor da rendição, verdade que me tocaram no peito e esgravataram a alma e até procurei apoio onde me encostar vacilante mas aguentei o embate e aprendi a dominá-las no gosto acre da devolução da munição quando bem abastecida.
Há palavras dolorosas que nos ensinam a gostar delas e a saber do momento em que as devemos calar e soltar, simples, isoladas, dispensando a exclamativa sinalética, exigindo o ponto final.
Mas todas são palavras boas, necessárias, vitais para a construção dos sentidos e do eu, de-mim-para-ti, sem-ti-nada, paredes esboroadas de um edificio de emoções que não perde a sua dignidade pela ruína que parece frágil pelo tal amparo do nosso corpo.
Não se cai, rompem-se janelas.
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(Imagem oferecida pelo fotógrafo Eduardo Jorge. Obrigado)
4 comentários:
Amei este texto. Muito bom mesmo. As tuas palavras tocaram-me uma a uma e é tão verdade o que dizes...
Joanne,
Obrigado.
Vindo de ti que usas as palavras de forma pura, clean, é um elogio enorme.
Um beijo.
hoje estou com as palavras dolorosos nos ouvidos... amanhã é outro dia mas, por hoje, rendo-me mesmo!
beijo
luísa
Pin,
Amanhã nasce macio e das palavras-dor surge o crescer.
Um beijo L.
(sorri)
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