Já passou.
Fechou a ferida e não dói mais.
Fica a memória como um retrato colorido, há-de exibir-se depois a preto e branco mas sempre nitida, os contornos bem definidos.
Por agora quero fechar os olhos e deixar-me levar pelo que me ficou dos aromas, dos relevos, de tudo aquilo que os meus cinco sentidos me possam enganar mas que eu creio como absoluto pois foi em mim que se decalcaram essas impressões como pele acrescentada à minha.
Enxertei-a cirurgicamente no coração, na alma e até na ponta dos dedos, ganhei outro ritmo, outro olhar e toco mais profundamente nas coisas abstractas que se formam como bolhas à minha volta.
Esta renovada sensação deixa-me embutidos de riqueza, experiências de talha dourada, afinal doeu-me a mim mas só a mim adornou, não a outrém.
Que até para esta coisa do doer é preciso estar alerta e vivo, muito vivo para sentir tudo desde o principio até à cicatriz, nada de esfoladelas, um mero raspão que não deixa lembrança e só incomoda. E eu prefiro sempre que sangre, muito, a descobrir que nem veias há.
(in Os meus segredos, C.G.-20/12/2005)
10 comentários:
como sangram as lágrimas que se vertem
e como aliviam aquela exacta dor
ainda que por outro motivo choradas
fluem num pranto que todos entendem
mas na de hoje se desculpam
para calar uma outra dor
Envergar as cicatrizes como troféus...
Abreijos.
Sentir profundamente para que da dor se obtenha respostas.
Viajo rumo a ti e em ti me deito.
Beijo
Quando se tem coragem de viver... as lágrimas serão sempre de vida.
A ferida fecha, deixa de doer mas fica a cicatriz.
Bjks
Pin,
E tantas lágrimas já deixei caír... mas também tantos sorrisos já troquei, já me ofereceram e eu devolvi de bom grado.
Chora, mas não te guarde em causa alheia para te mascarar a dor que é só tua.
Entendo-te tão bem...
Um beijo
Samuel,
Tenho algumas cicatrizes minhas, sim. Mas gosto de as guardar para mim. Como troféus não. Como marcos.
Abreijos
(Gosto mesmo desta palavra!)
ABREIJOS!!!!
Moonlight,
Tu sabes de mim e sabes que tudo, pelo bom e pelo mau o sinto, sempre, de forma profunda.
Um beijo para ti, que venha o luar.
Ana Luar,
Coragem não falta, mas como dói às vezes...
Mesmo sabendo que a seguir às lágrimas o Sol vem e enxuga-as.
Beijo
Papagueno,
Tens toda a razão.
E eu tenho algumas. Costumo passar-lhes os dedos e lembrar cada uma como crescimentos, novas vidas, renascimentos.
Um beijo para ti e para o Bairro que hoje me trouxe recordações tão bonitas.
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