Tanto ela como ele se sentiram imediatamente atraídos um pelo outro. Talvez porque os opostos tendem a comunicar-se com uma linguagem muito própria, quase semiótica, um imã puxando no seu sentido.
Ele lourissímo, ela de uma tez trigueira e cabelo negro.
Complementavam-se nos vários debates, opiniões sobre o mercado a explorar e por várias vezes a oratória parecía ser a uma só voz. Doutras atropelavam-se ferozmente.
Quiseram encontrar-se para lá da vida profissional e o primeiro encontro pareceu ainda aproximá-los mais: a comida e os restaurantes favoritos eram comuns, bem com os locais da noite citadina, a roupa e as marcas e os perfumes eram os mesmos que preferíam ver e sentir no sexo oposto e quando entraram no campo da arte, tanto os livros como as exposições de pintura tinham sido vistos com os mesmos olhos e a mesma admiração crítica.
Mas o que era mesmo fantástico era a comunhão que tinham passado sobre o que não gostavam.
Falaram então de amores. De relações passadas e não vingadas.
Mas não disseram um ao outro quais as causas por que esses laços não se tinham atado. Ficaram suspensos na interrogação provocada ao outro, nas pausas, nas reticências, no mudar de assunto.
Saíram ainda uma e outra vez.
E ao quarto encontro, abrigados pela escuridão e flashs de um bar da moda, beijaram-se quase a alimentarem-se.
Ele surpreso ela admirada. Não pelo desejo que sentíam mas pela forma como tinham devorado a boca um do outro. Voltaram a colar os lábios e numa sôfrega vontade, encontraram naquela caverna macia, quente e molhada um terreno que parecía ser já do seu conhecimento havía muito tempo. Mas ambos pensaram que o lógico sería assim, como almas gémeas, o universo a complementar-se e a completar-se.
Não perderam tempo em mais conjecturas e foram para casa dela, mal batendo a porta ele a assaltá-la pela cintura prendendo-a contra si, obrigando-a a sentir o desejo crescente encostado na sua púbis, entre as coxas, empurrando como uma alavanca violenta. Ela mordeu-lhe grosseiramente o lóbulo esquerdo e depois chupou aquela ponta mole da orelha enquanto o afastava como podía para longe de si, sorrindo maldosa e deitando-lhe a mão em concha àquelas carnes.
Ele curvou-se quase num susto e olhou para ela: aquele rosto moreno enfeitado de uns olhos mouros estava tingido de vermelho e a boca ria pela presa que tinha na sua frente. Achou que a surpresa era melhor estratégia e lançou mão àquele peito cheio que o desafiava desde o primeiro dia que se tinham encontrado. Amachucou a camisola justa para cima e descobriu-lhe um único seio fazendo-o saír do soutien naquele tom escuro que o fascinava. Abocanhou-a e até a mordeu. Ela porém, hábil havía desprezado as calças dele e num esforço começou a obrigá-lo a baixar-se, quase de joelhos, forçando a que ele por terra ficasse à sua mercê.
A diferença de estatura levou a melhor dele e acabaram os dois no chão, a rolarem um sobre o outro a sua vontade de dominar.
Quando ele lhe prendeu os pulsos contra o chão e por dentro dela conquistou território, ela rugiu como uma fêmea que precisa de matar o cio mas não se quer dobrar à vontade do macho. E após alguns minutos, imobilizou-o à força de pernas e de um só golpe virou-o invertendo posições: agora estava ela por cima a comandar e à medida que o domesticava, os seios balançando naquele movimento de galope árabe com as ancas seladas e arqueadas começou então a sentir que se aproximava do que quería, esquecendo-o para numa vontade egoísta marcar o ritmo que acelerou.
Ele não conseguiu conter a natureza e seguiu-a não só pelo movimento e força mas também pelo entusiasmo que ela lhe demonstrava.
Caída sobre o peito dele como um colchão, os cabelos negros abafando o louro não se apercebía que alguma coisa, pela primeira vez não havía estado em uníssono e aquela que parecía ser uma parceria perfeita num momento chave da vida não havía funcionado.
Ele empurrou-a sem cerimónia e sentou-se.
Estava pensativo e perplexo.
Ela pousou-lhe a mão na mão dele e o olhar disse-lhe que era assim, dominante, dominadora, activa, impulsiva e selvagem. Ele verbalizou que também ele e não admitía ser subjugado a nada e muito menos numa situação em que se dava, que dava de dentro de si.
Os lábios dela alvitraram que se experimentasse de novo mas a química havía-se ido e ele não quería mais nada a não ser o macho cobridor, o que liderava.
Vestiram-se em silêncio. No ar apenas pairava aquele aroma intenso e acre do querer consumado.
Ela levou-o à porta e de face encostada à ombreira pestanejou dizendo que a vida era miserável mas não podía ir contra a sua natureza. Ele concordou amargamente, admirando-lhe o belo corpo.
Esticaram a mão direita e num aperto forte e longo despediram-se.
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(in Contos da Fogueira, C.G.- 27/09/2006)
12 comentários:
-Au revoir, mon chéri, não disse ela?
Eis que as palavras se manisfestaram vãs. Eis que a natureza se revelou bruta e farta. Acto puro vazio de si.
Apenas.
Cru, verdadeiro. O ritmo é vertebrado nas palavras . As imagens sucedem-se possantes.
Sempre rico e de boa literária.
Beijinho.
Tanto em comum e o resultado foi uma simples explicação física: polos iguais repelem-se. Nunca foi segredo. Devemos tudo às diferenças, a tudo o que foge à normalidade. É a única maneira de enriquecer. O resto foi uma reacção química que acabou num composto não esperado porque lhe subtrairam um átomo da essência humana.
Estes teus contos ardentes são delícia.
Um beijo
Fácil é sonhar todas as noites. Difícil é lutar por um sonho.
Beijo
Uma boa questão, ninguém deve contrariar a sua própria natureza. Adorei este teu texto.
Bjks
Mateso,
Não havía muito a dizer, não é?...
Embora o francês seja sempre chique mas naquele momento acho nada dizer foi o que melhor souberam.
Obrigado, Azul.
Beijinhos
M,
Nem mais!
Dois a serem da mesma natureza tinha que dar faísca.
Obrigado M., esse elogio vindo de ti é prémio grande.
Beijo para ti também
Lu@r,
Sonhar é sempre fácil. Lutar sempre será dificil: o compromisso da luta é mais avassalador do que o sonho concretizado.
Beijo
Papagueno,
(nova apresentação? Boa, gostei!)
Não devemos, mas a verdade é que anda aí muita gente a contrariar-se e deixam-se levar pela vida sem nunca terem sabido o que é o prazer de amar e ser amado.
Beijinhos pró Bairro!
Texto tórrido. Adorei.
Bjs
Ema,
MInha Grande Amiga de Fogo!
Que feliz estou de aqui te encontrar!
Obrigado!
Um beijo de saudades
PS.: Não esquecer o nosso chá e bolo...
Abraço alongado.
Tchivinguiro,
Agarro-o.
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