Escrevo hoje sobre este sitio para que um dia hajam mesas, cadeiras e as tias que nelas se sentam a beber o seu chá muito triste, muito brancas de memórias de sonhos que tiveram na mesma idade que eu tenho agora e nunca passaram de páginas rabiscadas por alguém tão igual quanto eu numa mesa próximo e de nariz tão apurado quanto eu para que possamos todas fazer jus ao que somos.
Hei-de vir nesse dia porque há-de haver a mesa que escrevi, algumas migalhas de éclairs chorados a baunilha e pó de arroz na confissão de jogos perdidos de canastas às quintas-feiras depois de não haver sol e a disfarçar a falta de outras companhias, lembrarei as tias de chás muito tristes sorrindo entre páginas do meu caderno, o chantilly azedado pelo tempo da escrita de alguém que nos olha.
Pago o que devo e despeço-me de alguém que imagino possa escrever sobre o que serei, as tias já foram há muito, o empregado sacode as migalhas para o chão.
(in Eu na Versailles, escritos improváveis, C.G.-Novembro/2005)
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