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terça-feira, 19 de abril de 2016

Travessias do Rio - 10



Do cais de embarque que outrora serviu ao deslize dos carros entalo os saltos altos nas grelhas ferrugentas, um acidente de percurso com diversos níveis como se desenvolvesse um jogo de computador, eu própria uma peça deste labirinto que me desvia a atenção do que é importante, o Rio diante de mim, os humores com que me recebe, a travessia que me faz, degraus desnecessários agora que o Cacilheiro grande amarrou de vez os cabos a um porto vendido, dizem uns quantos para reparação, mas o negócio vai mal e o melhor foi levá-lo para fora de vista de uma vez por todas, provavelmente para ficar preso até se afundar de tristeza.
Suspiro ao desencravar-me num repente furioso, não pelo sapato arruinado mas pela memória do Rio atravessado  nesse barco majestoso que há tanto deixei de ver e da mão da minha mãe a estrangular-me o vestido evitando a tentação do meu mergulho libertador.
Há Cacilheiros a preto e branco nos meus ais e nem mesmo as muitas vidas de um bom jogador cibernauta me salvaríam da dor que me enterra esta manhã.

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