Agarrava-se compulsivamente e babando-se
deleitado não largava, mesmo que pela mão o puxassem, o tentassem distraír com
a roca, a guloseima, nada lhe tirava o prazer de sofregamente chuchar o
indicador, já mirrado, encolhido e deformado pelo esconderijo quente e molhado
do orifício bocal.
De quando em vez, uma palmada, não se
aponta que é feio, mas olha lá, lá as nuvens, lá os bichos, lá os papões que
esperam o tombar da noite para se deitarem comigo, por baixo da cama à espera
que saias para me deitarem as mãos, ali mesmo ao alto perto do arco-íris, o que
é o arco-íris, e nada lhe tirava a teima do indicador espetado sempre pronto a
furar com perguntas.
Foi na ponta do dedo que descobriu a
pele, rugosa nalguns sítios, cheia de histórias e de temperaturas e de reacções
e desde então nunca mais perdeu o hábito de tocar fascinado o mapa que as
linhas muito juntas da derme lhe contavam e lhe pedíam. Apaixonou-se.
O dedo calejado dedilhava de olhos
fechados as cordas do seu temperamento, chorava o violino sobre pautas
invencíveis em tempo e compassos de cabeça levemente caída amparando as
emoções nos dígitos arqueados.
Torto e enfermo ganhou um pequeno monte
de carne empurrada pelo vício da caneta aprumada ao papel aberto a lembranças
de quando era menino, chuchava muito recorda-se e ainda se lembra do sabor do
dedo na boca tão igual ao prazer da tinta azul-china a manchar-lhe o indicador.
Fecharam-lhe os olhos, não sabe quem,
mas viu distintamente um dedo na sua direcção, apontando-o como lhe havíam
proibido.
Escrito e publicado originalmente no extinto Blog Uma casa na árvore, 01.02.2009
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