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segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Justo, justa


 
De sentinelas, suponho que a aguardar que o ar se aligeirasse para retomarem o voo, demasiado branco a tomar a opacidade do cimento, do rio, do asfalto, da ponte desaparecida algures, um fio de vento frio a levantar algumas penas e a imperturbável solidez de soldados aprumadíssimos não lhes tira um pio, sacudo os braços até as mãos se agitarem nos bolsos como um choque eléctrico.
Nevoeiro. Nevoeiros.
Não é justo estas gaivotas morarem aqui. Aguardarem num terraço cinzento sem cheiro que conheçam que não seja gasolina, comida de lata de lixo, ninho em tejadilhos de carro.
Não vejo nada, tudo tão branco que é capaz de me comer as mãos se as esticar adiante e à frente é a água que separa as duas metades do meu lado e do outro, a metade em que sou soldado, a parte em que aguardo o ar se aligeire para me fazer ao voo e assustar os pardais, comer do lixo, abrir as asas a mim mesma no olhar incandescente de um cigarro acabado, minutos de sentinela em que as opacidades se rasgam no frio e oferecem verde, encostas a caír a pique até mergulhar e voltar de novo à superfície, limpo, limpa, justo.
 
 

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