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sábado, 5 de dezembro de 2015

Instantâneo - Episódio treze



Estas coisas do preceito têm muito que se lhe diga: Elástico, caneta, caderno, o café. Mas sem o toque de mão, inspiração que traga ao final dos dedos o desenho mágico do conjunto das letras unidas para formar a emoção, nada feito. Não há mesmo nada que componha o resto que substitua o principal. Notei então os pés frios, a falta de peúgas na extremidade em semelhança com a que segura a ferramenta da escrita. Vestidos estes e aquecidos, ainda assim o verbo perro na folha branca a beberricar golos de um gosto ainda mais desgostoso que o já habitual instantâneo. Descoberta feita na troca pela fiel caneca a pedir reforma, o conteúdo talvez mal habituado a coisa de pó e água quente não se conteve e rebelde, atirou-se a um acre difícil de tragar. Mas agora que as idéias fervilham a questão da opção: Fazer novo café ou deitar-me a escrever? Ou se começar pela última, a tradição acabará, quiçá a trair-me e a interromper de novo o verbo? Uma piada este dilema, e enquanto a cogitação se dilui o que resta de liquido na caneca nova arrefeceu e está bom para a terra. Desconsolada, mãos no regaço mas de pés quentes, trepa o gato amarelo que é mais laranja que amarelo para o colo, duas voltas, três voltas e não contente com o leito despacha-se para o caderno aquecido pela luz do candeeiro. Talvez faltasse ele. E o outro que chega de seguida e se aninha em mim a ronronar, perdendo-me de toda a escrevinhação ainda palpitada. Ele há preceitos, o mal foi da caneca e nem sei porque a escolhi.
 
 

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