A tentação seria andar no meio delas, um colchão alto, fofo e encarniçado onde perdesse os pés até aos tornozelos revolteando de lá para cá, enquanto assentavam nas suas metades ocultas o dourado que ficara por queimar.
Mas aos olhos só uma placa acamada e ensopada das chuvas fortes dos últimos dias.
As folhas não resistiram, sucumbidas pelo espernear do vento e da muita água inesperada pelo inicio deste Outono ajoujaram-se prensadas contra a calçada, acinzentadas e sem tempo de tomar a cor da estação, quase pardas, tristonhamente falecidas no meu lembrar traquina de correr entre o amontoado.
Deixei-me parada a observar o lençol desoladamente esticado sem uma única folha que pudesse salvar para trazer para casa e dizer muda é deste Ano, do meu tempo favorito e das cores que mais gosto a recordar o fogo que se consumiu.
Um homem passou por mim e aconselhou-me a desviar os passos. Demasiado perigoso, muito escorregadio. É verdade, as memórias têm destes truques.
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