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terça-feira, 15 de setembro de 2015

Portas & Janelas - Esboço nº 22



Há portas que se fizeram para se manter fechadas encerrando como colarinhos subidos até ao alto do pescoço todo o pedacinho de pele, cuidados mais que o recato, mais que o silêncio prevalecido, uma aparente clausura de não-vida do que anda por trás delas, sabe-se quem lá mora, quem as fecha, mas não se sabe o que passa, como vão, as portas tapam tudo, escondem verdades ou mentiras e desta ignorância fabricam-se enredos e mitos, esgravatam-se na madeira o som que não perpassa das unhas que desencantam as interrogações sem retorno e à custa de tanto espreitar no joelho dobrado, o olho vesgo pelo buraco da fechadura, um dia vem um sopro e dá uma novidade.
Afinal não se vê nada, tudo plano lá para dentro, portas fechadas para o morto... E vem outro e diz que não, tudo vivo e muita festa! E chegam de outros lados em monte e acocorados e logo descobrem o crime, tanto sangue atrás de portas, por isso sempre fechadas. 
Corre a palavra, corre o vento, corre o tempo e quem quiser saber é passar a mão na aldraba, bater e pedir para entrar.



 (in Portas & Janelas, Outubro-2014)

Todas as fotografias da Colecção Portas & Janelas são da autoria de Eduardo Jorge Silva

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