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segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Lá vem a bruxa



Fui enxotada da cama ao som de um tango mal tocado, sinais de quem se acha superior e surdo, vociferei pela pouca das horas passadas e do direito ao descanso, coisa que nada adiantou que em dois minutos corridos lá voltou o toque fanhoso da gravação repetida, a pé e de olhos bem abertos dei-lhe a liberdade de lhe esgotar o cansaço até se findar na tarefa. Silêncio de seguida. Nada como o nada para ocupar quem partiu a fazer barulho. Encarei-me no espelho e não lhe gostei de ver, melhor não dar conversa, falar do que vai acontecer hoje, é impensável neste momento, há alturas que a sobrancelha esquerda lhe sobe num pico como um sinal de mar bravo. Afasto-me. Pego na vassoura e conduzo a toda a brida desmanchando o penteado acabado de fazer. Experimentem chamar-me bruxa que eu provo que sou mesmo. É que há dias que cansam quando ainda nem começaram. Especialmente, quando chegam aos ouvidos o sussurro de uma lenda para a qual não contribuímos.
E hoje sinto-me capaz de dar, toda eu vassouradas.

 

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