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quarta-feira, 29 de julho de 2015

Gaiolas


 
Volta tudo, como num encantamento volta tudo: A beleza, o fascínio, o saber sem se saber, o saber sabendo-se que nada de mal acontece mesmo que não se saiba porque aqui tudo se sabe, as sensações de vertigem e desequilíbrio e as de comando e de voo controlado, a vida, a morte, a vida de novo sem a morte.
 
Voltou tudo como há muito não chegava, porém na mesma dose maravilhosa, tão igual desde infante em que a barriga rasava o solo para logo na veneta da inclinação do queixo, do nariz, disparar ao alto do miolo do edifício e avistar o caracol das escadas a confundir-se num movimento circular de aperto pela ilusão dos olhos mirados ao núcleo.
 
Até no sonhar a incredibilidade do real a pregar partidas, malevolamente, o estático a armar-se em forma vertebral, desconfiada olhava a ponta dos meus pés sem base e mergulhava suicida no olho cego que aparecia no meio das escadas animadas, furava-o desafiando o protagonismo, acabando morta num rés-de chão vermelho do meu sangue.
 
Voltava eu, toda, sacudida, de pé, de pés caminhantes, mas já sem voo encantado. E a escada é sempre a mesma, madeira encerada, de caracol, larga e sem serventia a porta alguma dirigida a um tecto branco em abóboda de vidro de onde nunca consegui saír.

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