Escrevi pouco enquanto estive fora, o caderno amachucou-se nas palavras escondidas entre coisas a não deixar no quarto de hotel, pensamentos vagueados entre trabalho e saudades, preocupações e desejos sobre o tempo passar rápido para rápido regressar, a vontade de inscrever letras no branco remoeu-se nas que sabía na boca e no coração e no instante do acto, a vontade parecia presa, a mão incapaz de saber dizer sim.
Folheei as páginas rabiscadas - em casa nossa tudo tem um sentido diferente - e na leitura dos traços, apercebi-me de novo da angústia do aprisionamento das palavras como se fossem um fardo a carregar no segredo de as conter, nem mesmo a partilha da folha era seguro o bastante para receber a confidência. Lá, recordo que simplesmente não conseguia, talvez a perda da força, talvez o cansaço, talvez nada, talvez apenas esperar os dias correrem para voltar a aprender como se dizer o que se vê, o que se sente.
Aqui dói-me ver-me lá, observar-me parada de mão a esconder o plano onde pouco deixei e ainda assim, o tanto do verbo a corroer as folhas como um ácido e a esburacar o peito, também esse tanto que na ausência do momento é o bastante para se compor depois, agora de olhos a saber dizer, de boca a ver o que diz.
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