A aparência dos dias - duas metades de claro-escuro - vai mais além do que o gozo das horas sem horas, prazer no hábito de fazer do escuro a claridade e desta desligar luzes quando o mundo se ergue. Mas também acompanhar dias a rigor e deles sugar outros tempos, outras latitudes, não por ter poder maior que os mortais ou por omnipresença secreta que esconda mas porque das palavras a renovação de vida me oxigena em futuros sem calendário, sem cor, nem claro nem escuro, apenas paredes defronte ao rosto.
Nesses dias que parecem não o ser, recupero o que salvei daqueles em que o tempo se multiplicou em tantas metades quantas a vontade de escutar palavras surgiu tão naturalmente como o desejo, fechar os olhos e lembrar, muros que se derrubam e caminhos que se rasgam para se poder escapar de aprisionamentos em que nem sequer se ouve o coração.
Mas é uma lástima que disponha de tão pouco tempo em que possa com dedicação multiplicar para usufruir em dias menores, já que as palavras não escolhem o momento certo, impõem-se, e aceitando-as faço-me o tempo delas.
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