Já despi, já vesti e voltei a despir, tudo como se o ciclo do dia e da noite tivessem começo e morte na minha mão fechada, uma vontade que não segue adiante só os atropelos de anos a quererem chegar primeiro à boca em palavras que não são ditas, memórias de letras contra dentes que esmago à medida que faço corredores para lá e para cá apertada pelo caminho que conheço de cor e pelos que me visitam a meter conversa, vão-se, já me bastam as paredes, e destas saíem como portas escancaradas todos os que me conhecem e outros que não lembrava mais visitando sem cerimónia casa alheia fazendo da minha moradia de ficar. E eu sem roupa. Na alma. Esta noite de mão aberta, a fechada perdeu a força de segurar a vontade de dormir e os latejos do coração subiram sem precisar da ajuda de elevadores até às recordações mais escondidas. Dói. Fazem de conta que são dores de cabeça, enxaquecas, dores de um corpo que já nem sequer é de minha pertença, despido vagueia pelo corredor a responder a visitas desavergonhadas que não se escondem de me olhar desnuda e aproveitam, fazem perguntas à alma, porque não dormes, não sei, que te apoquenta, não sei, não sabes nada.
CAPÍTULO QUARENTA - DE VOLTA A CASA
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Ao fim de pouco mais de três meses Alberto fechou a conta e a familia
regressou à casa renovada.
Maria da Luz apenas tinha ido por uma vez ver o decurso das...
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