Sento-me [qualquer coisa me falta, olho ao redor e à distância dos olhos parece tudo certo e no entanto denoto a ausência de qualquer coisa que não percebo o quê] abro o caderno, folheio as últimas páginas e releio uma e outra frase ao acaso, o café ficou demasiado quente, terei de esperar para o beber, há todo um ritual a cumprir, primeiro o gole [mas não é o gole que falta] e só depois como um combustível tenho o arranque para as folhas brancas que rápido se enchem [descobri!Falta a caneta!]. Levanto-me e procuro a caneta de tinta permanente. Olho várias vezes e nada vejo. O gato amarelo que é mais laranja que amarelo alastrou-se por cima do caderno, puxo a ponta do que é minha propriedade mas ele resiste, abana e permanece gordo e com os olhos em fenda ignorando-me. Vem o gato branco e negro e coloca-se debaixo do candeeiro, enxoto-o, ele abre a boca e aninha-se, ignorando-me. A luz reduzida diminui-me o campo de visão para o chão, agachei-me, procuro aí a caneta, decerto rolou, [daqui vejo o olhar critico dos clássicos na estante, condenem-me, vá!] penso nas palavras que tenho debaixo da língua e que vou murmurando como um terço que se passa entre os dedos suavemente [preciso urgentemente de beber um golinho de café...]. Mando tudo à fava, enrolo o cabelo ao alto num ninho de cucos, puxo uma folha branca solta e de lápis em punho vazo o que me sufoca. Afago o gato amarelo que é mais laranja que amarelo. Cintilam-lhe o verde dos olhos e desliza para o meu colo [a caneta debaixo dele?]. Levo a caneca de café aos lábios. Frio, horrível como todos os instantâneos sabem ser.
CAPÍTULO QUARENTA - DE VOLTA A CASA
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Ao fim de pouco mais de três meses Alberto fechou a conta e a familia
regressou à casa renovada.
Maria da Luz apenas tinha ido por uma vez ver o decurso das...
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