Todos os textos são originais e propriedade exclusiva do autor, Gasolina (C.G.) in Árvore das Palavras. Não são permitidas cópias ou transcrições no todo ou/e em partes do seu conteúdo ou outras menções sem expressa autorização do proprietário.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

O céu da boca (Palavras Reencontradas) 3



Afinal é tudo tão simples.
Era tão simples.
Tão simples que se tornava difícil. Sempre foi essa a fórmula mágica de dizer tudo o que me compunha e o que ainda sou, mostrar o que sou, dizer o que sou não o que os outros vêem porque dos outros todos me acham complexa, vá lá saber-se porquê, um infinito entrelaçado que não se acha ponta para começar a dobar. Das palavras só encontro as que me aparecem no céu da boca e me chegam aos lábios, coisa simples, onomatopeias do sentir, seja dor seja gargalhada, mas é assim, não há pesquisas para achar sinónimos e rodar cabeças para os calcanhares, respirar quando a vírgula pede e inalar pausa no ponto, segue.
Fecharam-me. Dedicaram-me estilos e até hermetismos como caixas higiénicas, e eu só a querer dizer o que quería dizer e nada mais, ligações do coração para a boca e desta para a mão com o apoio da caneta antes que se varressem de vez, algumas foram-se mesmo, outras voltaram, muitas nunca as esqueci não sei porquê, não houve marca para as recordar como uma data que se assinale. Lembro-as, recito-as em solilóquios surdos a embaterem de frente com outros escritos e tudo me parece simples.
Sou eu.
É o que eu quero dizer, nada mais.
Espero que queimem tudo quando morrer, há-de ser difícil para os outros.
 
 
 
(in O céu da boca (Palavras Reencontradas), Janeiro 2014)

Sem comentários: