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segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O céu da boca (Palavras Reencontradas) 2



[...]
 
E embora me tivesse lembrado delas não me lembrava de mim. Nem dos outros, permanentemente num cortejo quase sádico a deixarem-me em situações embaraçosas que de inicio tentava explicar, rebater, contrariar quando se riam da minha incredulidade ao ver o sorriso sarcástico a adivinhar-lhes a legenda, maluquinha, ou os mais directos a demandarem em que coisas andavam eu metida.
É na veia.
Mesmo.
Mas não me injectava antes se produziam delas como fluido sanguíneo que precisava extraír para respirar ou asfixiava por mãos invisíveis.
Às vezes andava triste e no segundo imediato estava feliz de euforia, não estava depressiva nem tinha perdido o tino, tinha palavras a mais que não sabía onde pôr, sensações que me ardiam na pele e era tudo em gigantescas vontades, não uma ou duas mas múltiplas vagas que surgíam e não me davam tempo de as colocar no papel.
Não passou.
Apenas fui aprendendo a escolher as de melhor sabor para mim. Porque muitas não eram minhas, eram pertença dos outros eus.
[...]



in O céu da boca (Palavras Reencontradas), Janeiro 2014
 


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