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domingo, 6 de julho de 2014

Portas & Janelas - Esboço nº 7



 
Branca. Tão branca que fazía doer só de olhar e no entanto era isso que mais gostava nela porque era isso que me orientava como um farol. Nunca fui boa em direcções, rapidamente me perdia atenta com outras coisas, fosse uma joaninha ou uma nuvem em forma de cavalo a correr, por isso tomar conta de pontos para fixar lugares nunca foi do meu interesse, só a casa branca, muito branca, sempre imaculadamente branca e sem ninguém à vista. Tantas vezes me acerquei dela, espalmei as mãos às paredes na tentativa de lhes sentir uma vida por dentro, um som, passos que se arrastassem para me porem  dali para fora, o meu coração disparado... Branca.
 
Um Verão encontrei-a branca e raiada de azul, um garrido lambrim a lembrar uma bainha da cor do céu em pleno tempo de calores. Não gostei. Mas depois alegrei-me com o despertar da idéia de gentes e num impulso corri à porta, bati na madeira até me doerem os nós dos dedos, a boca seca de tantas perguntas por tantos anos.
 
Regresso sempre como uma peregrinação. A casa branca não me deixa hesitar o caminho, solitária gosto de a pensar quando eu corría sem destino e a avistava como um farol. Pouso as mãos na tinta descascada e sinto os sons de passos no meu coração tranquilo, contaram-me num desses anos comidos que houve um homem que viveu aqui e se perdeu no mar, quem lhe pintou o azul ninguém foi capaz de mo dizer.
 
 

 (Portas & Janelas, Outubro-2013)

Todas as fotografias da Colecção Portas & Janelas são da autoria de Eduardo Jorge Silva 

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