Todos os textos são originais e propriedade exclusiva do autor, Gasolina (C.G.) in Árvore das Palavras. Não são permitidas cópias ou transcrições no todo ou/e em partes do seu conteúdo ou outras menções sem expressa autorização do proprietário.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Campo de Palavras (14)



É da minha sobrevivência, da árvore, alimentar-me, escrever, são actos indispensáveis para que siga, nem sempre bem sucedidos, nem sempre racionalmente executados. O rigor nunca fez grande parte da minha vida e essa rotina cumpriu a sua função ao extremo quando bailarina, vontades mais destinadas ao amor que tinha à arte do que propriamente ao corpo, factura que pago todos os dias nas pequeninas misérias que vão surgindo e se acumulando na falência da idade.
Por isso e aparentemente, este campo entregou-se a um mato desordenado, fruto apenas das vontades das estações, da queda de uma ou outra baga rachada que libertasse as sementes e desse cama a novos rebentos, outros arbustos, tenras folhagens.
Eu venho sempre, gosto de ver a árvore grande, passar a mão no tronco e sentir-lhe os nós da idade, prometer-lhe na próxima, visita mais longa que desta é só passagem, ficar com os cheiros e com a saudade de quando o lugar era sitio cheio de promessa e corropio de campo de palavras.
Agora somos sós nós.
Silêncio. Conto-lhe as nossas palavras e sinto-lhe as folhas a roçarem-me o cabelo.
Sem perdão pois não houve julgares, floresce pesada em branca e rosa e eu escrevo saciada.
 
 

Sem comentários: