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sábado, 21 de setembro de 2013

Coisas sem importância que são importantes




De preferência tudo. E à mão. Na mão. Com as linhas no papel e as linhas dos dedos a contarem relevos de coisas, coisas sem préstimo, velhas, coisas de lixo merecedoras e de muitas perguntas a cada vez que são vistas por olhos sem lentes especiais e sem odor que inquirem enrugados se não está na altura da reforma e de serem trocadas por novas, brilhantes. O cinzeiro lascado pintado à mão que veio dos Açores no azul branco de fundo vidrado com muitas veias pelo uso. A caneca de pintas comprada numa feira na Lousã comida pela cafeína e pelo pingo teimoso que verte. A cadeira com a travessa onde se esfrega a cova do pé à espera de três desejos. O elástico de cabelo que vai do cabelo para o pulso e deste para o alto da cabeça e volta e vem. A caneta de tinta permanente sempre permanente, quase gasta, sempre fiel, quase substituída, volta para ensinar a nova. A garrafa de água que tomba. No frio, o xaile de borbotos e pêlos de gato e cão, as meias de aquecimento pela coxa, o café negro e muito forte, o earl grey com uma rodela fina de limão.
O caderno. Os cadernos. Os cheios. Cheirados e os de uso corrente amaciados na palma inteira a sentir os altinhos da página marcada. Os novos, a estrear, a apalpar o comportamento de receber a seiva com que se desenham os segredos das palavras que se usam para contar tolices tão pueris como as coisas tão importantes que me são para escrever tudo isto.
 
 

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