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terça-feira, 30 de julho de 2013

Casablanca V



 
Noite, noitinha, um ar abraçado em cânticos veste palmeiras, o escuro, os edificios brancos, os leds azuis interiores da viatura estofada a pele verdadeira onde hesito reclinar por me perder num fundo onde não consiga recuperar o pé. O árabe arranha-me a imaginação e procuro infindavelmente a linha de cavalos e camelos com a silhueta esguia do turbante azulado, uma perseguição contínua até ao adeus no aeroporto, que nunca avistarei. Quero fixar tudo, comer tudo, engolir e guardar para no quarto sózinha, saborear devagar a memória do momento, mas o francês ao meu lado de cotovelo afiado tagarela-me como se fossemos os únicos a entender o idioma e os marroquinos perdem-se na beleza dos telemóveis, suponho, a falarem com as mulheres e a chamarem-nos de bestas por terem de nos aguentar. Eu lusa, grito. Por dentro. Tento lembrar-me de algum poema, alguma coisa que tenha escrito mas só me recordo de um programa de culinária que vi na noite anterior às duas da manhã hora de Portugal, em francês, com creme fraiche e poulet et sans porc, tenho saudades de porc e também du vin et de la bière, como se dirá cerveja em marroquino? Certamente, nem haverá palavra, talvez haja, os italianos têm bebido muita cerveja mas sem alcool.
Chegamos.
Na sua comum doçura, apontam-me o caminho, contam-me uma história.
O sitio?
Ergo a vista. Sorrio, lembro-me do mirante que se debruça sobre a minha margem do Tejo, um forte.
C'était, desligo, o resto é um manto que pousaram na minha testa e desliza no meu dorso.
Tão longe e venho encontrar o meu pedacinho aqui, um canhão, pedras minhas.
 
 

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