Ter espreitado foi a minha condenação, embora nesse tempo não o adivinhasse. Outras fases da lua encobríam-me a luz e eu habituada ao mundo dos gatos não me incomodava com o que me aparecía. Divertia-me, trocava dois dedos de conversa, mandava-os embora quando aborrecida, ignorava se estava acompanhada. Escrevía-os. Numa claridade que me cegava pelos sentidos e velocidade, fulminada pela vontade de o ser, pela necessidade de os ter nas mãos como os pés que não paravam.
E arrumava tudo. Como se fossem meias lavadas que se dobram para vestir num dia em que os pés arrefecem.
Quando abri a porta e pela nesga deitei o olho, empurraram-me, bateram-me na cara. Estava frio, talvez nevasse. As fitas das sapatilhas estavam rasgadas.
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