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quinta-feira, 12 de julho de 2012

Teresa



Falaram-me de Teresa porque pedi.
Porque a única vez que a vi passava eu numa rua estreita, escura e velha, eu perdida nos passos da memória que nos levam nas pernas sem rumo e sem dar conta nos vão levando à mão até onde a luz se mantenha para que os olhos não durmam.
Os meus abriram-se mais porque me chamaram sem som, sem nome, sem aceno e ao alto, no topo de uma casa velha esmagada entre outras esguias, uma mulher de vestido branco, acocorada e de cabelos longos, permanecía recortada na noite estalando o contraste do seu vestido no azul do escuro. Não me olhou, só do telhado parecía que o mundo a qualquer instante me pedía o joelho por terra.
Lembro-me ou não me lembro, não sei, mas devo ter pestanejado, devo ter engolido em seco, porque quando apontei ao alto a vista encontrou nada.
Andei muito tempo à procura daquela rua estreita, escura e velha e não a achava.
Acabei por a esquecer.
Um dia ao olhar o Tejo vi uma mala a ir-se na maré e voltei a lembrar-me da rua, da mulher, do recorte do vestido e daquela noite azul escura e procurei o caminho e achei-o à claridade do dia.
Perguntei pela mulher do vestido branco no telhado.
Falaram-me de um parto.
Contaram-me uma história.
Chamava-se Teresa do Mar e nunca mais foi vista.

1 comentário:

AnaMar (pseudónimo) disse...

Que saudades tenho das Cartas ao mar que ela escrevia...

(Hoje deu-me para visitar escritas que adoro...:-)