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terça-feira, 10 de julho de 2012

Q.C.





Vai para três anos que nada sei dele.
Melhor, deles.
De inicio ainda recebi algumas cartas, depois mais espaçado uns quantos postais, não muitos é verdade, mas o que continham enchíam o peito e valíam como uma presença abraçada, mais que tudo, sabía-o feliz, completamente esquecido da ideologia da perda que durante tanto tempo alimentou como um ego.
Ela há-de estar-lhe junto, estou certa, vivo ou morto.
Há relações que se tecem para além do invólucro que o olhar tem a capacidade de atingir ou o que as palavras conseguem traduzir nas linhas pintadas, são impressões, manchas de luz, ecos de voz, coisas não faladas, pormenores de cor, fé, carne, alma, vontade, homem e mulher.
Ao tentar conquistar a mulher que amava acabou por conseguir a lua.
Ao saber-se conquistador tornou-se homem.
Por vezes, recordo o seu olhar angustiado nas noites em que a esperava e ela tardia, arrastava os pés cansados trazendo um cheiro de animal que parecía acelerar o crescente da Lua. Mas os postais embrulham essa memória para uma noite sem luz e do papel semi-duro de boas novas desprende-se um leve aroma a rosas molhadas.
Sei que nunca mais o verei. 


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