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segunda-feira, 11 de junho de 2012

O livro negro dos homens (vinte e três)

Há dias em que nada faz sentido porque tudo é feio e todas as gentes são más. E tudo junto parece reunir-se num diminuto espaço onde pouco ar se respira. Nada funciona. O que dantes havía não existe mais e não se voltará a fabricar porque não é rentável. As ruas conhecidas estão em obras e o traçado futuro altera-lhes o trilho de tal forma que as memórias dos risos e das tristezas aí sentidos não passam de ficção que se leu algures. Paladares degustados em casas fechadas ou simplesmente inexistentes à vista, activam o cuspo e apenas envergonham pela baba que escapa ou pela conversa que se troca como cromos raros com uns quantos que sofrem da mesma mágoa, da mesma magia dorida, do mesmo deserto pleno de secura e miragem, o desconforto de quem sabe que já lá esteve, teve, tocou e agora não sabe nada porque precisa provar a si mesmo que ainda está vivo por dentro, que ainda é rentável para si, para os amigos, para os apertos de mão, para a palavra dada, para limpar os pés no capacho e pedir licença antes de entrar, para dar um abraço e ouvir encostado no peito qualquer coisa tão parecida que em tempos se chamou o bater do coração.

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