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sexta-feira, 11 de maio de 2012

Um dia


Sente que o quer, diz que o quer, quando está longe dele diz para si que vai fazer tudo para reparar a situação e ficar com ele mas vai deixando a brisa do tempo correndo morna e assiste, consoante a modulação das vozes lhe permitem e a moderação das lágrimas pressionam. Deixa-se estar. É bom deixar estar, sabe bem, é confortável, não tem que fazer malas, nem acartar pesos: os de mão e os de consciência.
Volta sempre a casa. E ao marido. Que a confronta, que a ameaça que a mata. Que se mata. Que lhe leva o filho de ambos. Aí ela chora muito, ela promete, ela jura que é tudo mentira, ela ameaça que mata o marido se ele fizer mal ao filho de ambos. E vão levando a vida assim.
O marido vigia-a, persegue-a, vê-a com o outro, mas não a deixa ir porque ela não admite e além disso ela é dele, só dele, assim como o apartamento de quatro assalhoadas, a casa de campo, os dois carros, a mensalidade do colégio de luxo do filho de ambos.
Ela gosta do apartamento de quatro assoalhadas pois tem um quarto só dela onde dorme separada do marido. E do colégio de luxo do filho de ambos que lhe permite chegar mais tarde para buscá-lo quando está com ele. Ele.
Ele vive num pequeno apartamento e ganha pouco e gosta muito dela mas condena-se muito por ter uma mulher que é de outro, embora ela lhe diga que não é do marido há muitos anos mas não se consegue separar assim. Assim.
O assim é tudo: é o colégio, é o filho, é deixar o marido que não tem mais ninguém e é preciso ter piedade. É preciso ter assim. Por isso, quando ficou prenhe dele desembaraçou-se que não quería começar uma vida assim. E ele acabou por concordar que assim sería dificil.
Ele então marcou-lhe uma data para ela tomar uma decisão em defintivo. Mas depois disso, já lhe marcou várias.
Sente que o quer, sente que um dia há-de estar com ele, só com ele e o filho e quem sabe, um filho de ambos. Um dia, um dia será assim.

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