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sexta-feira, 7 de maio de 2010

O bater do coração (sete)

Deitei a mão ao pote de vidro e li a etiqueta: Doce de medronho, doce de abóbora com nozes, doce de amoras. Um de cada. Não me interessa como são feitos, se levam açúcar ou aspartame, se têm muitas calorias, se sabem bem, quero-os pelos rótulos pintados a aguarela num infantil traço que me lembra os meus de criança e me leva à cozinha perfumada de ébrios travos em que a marmelada era mexida sempre em 8 pela firmeza do braço da Mãe, acidulado na boca, sinto saliva a mais, quero dizer coisas mas ainda não sei como fazê-lo por isso vejo atenta o que ela faz e guardo para mim, um dia vou saber o que tudo isto quer dizer. Os potes estão abertos a fumegar no parapeito da janela, acompanham-me abelhas riscadas que afastam o indicador curioso da prova. Depois as rodelas de papel vegetal, ainda as abelhas teimosas no doce que babou, o parapeito dá-me pela altura da testa, encavalito-me no bico dos pés. Hoje faço um desenho da compota, da geleia, das abelhas, da Mãe e da filha. Talvez nunca coma estes potes que comprei. Amo-te Mãe, já sei dizer o que sentía.

3 comentários:

Vicktor Reis disse...

Querida Gasolita

A mais bela declaração de amor...

Beijinhos.

Klatuu o embuçado disse...

Muito bonito. Bom estimá-las, enquanto as temos.

Beijinhos.

Rui Fernandes disse...

A minha já está muito velha para fazer marmelada... Agora sou eu que lha levo, feita por mim com os marmelos do meu jardim