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sábado, 29 de março de 2008

Fábrica de letras



Depois de tantas palavras escritas e tantas frases em sangue, muitas e variadas formas de chorar e rir, fazer amigos, sonhar, despertar amores e ódios, encher o peito de ar pela falta de ar que se sente nos suspiros aconchegados, beleza e tristeza, inveja e cumplicidade, liberdade e vicio, dilaceram-se ainda tantas e mais do que as que já aqui estão.

É provável que um dia haja em que a mão incapaz morra na presa da ferramenta da escrita, que se encrave o gesto metódico e que até o monstro do cansaço se deite acolhedor sobre o corpo e o dome na desistência batalhada. Será um dia normal. Será um dia diferente pela abstinência do acto tão costumado de sentar e deixar fluír, sem restrições, sem preparos, sem ensaios repetidos, sem apurar a ideía até aqui chegar limpa.

Cá por dentro continua a laboração no alimento contínuo da caldeira, perde-se a conta aos fogachos que ardem desde lentos braseiros até labaredas altas, há um movimento incessante sem dia e noite, come-se do que se produz, ateia-se do desperdicio e renova-se nas cinzas como verbo novo.

12 comentários:

marisa disse...

Que a tua caldeira criativa nunca se extinga! Que viva para sempre a tua mão capaz e soberana da ferramenta da escrita! Desejos de certa forma egoístas, mas a tua fábrica de letras abastece-me quase diariamente...No entanto, compreendo que a mão cansada pouse de vez em quando a pena.
Belo o texto e bela a imagem.

marisa

Patti disse...

Não gosto de pensar de como será quando um dia assim chegar.

Como é possível que ele vá chegar, que ele tenha de chegar se ainda tenho tanto para dizer?

Eme disse...

Não duvido em que chegará um dia tão normal que nem se dá por ele, em que não será solto mais nenhum verbo da mão.
Nunca o fim no entanto.

Transição. Talvez a glória merecida.

Beijo

Mateso disse...

Somos um país de excelente culinária, logo os bons cozinheiros começam no verbo...
Bj.

Gasolina disse...

Marisa,

Que te digo eu?

A mão não cansa, tão pouco a idéia. Mas o tempo é padrasto e consome-se, consome-me.

Fico feliz de saber-te aí, de qualquer das formas em que me chegas. Muito obrigado Marisa.

Um beijo para ti, que te chegue.

Gasolina disse...

Patti,

É esse o meu sentimento.
Sentir que quanto mais me encho e tenho para escrever mais o tempo se escoa por um ralo que não consigo tamponar.

Um beijo.

PS.: Muito obrigado, mesmo.

Gasolina disse...

M,

Espero que no dia que chegar a vez de deitar a pena toda eu descanse também.
Tudo de uma só vez.

Um beijo

Gasolina disse...

Mateso,

Acho engraçada a analogia que fazes.
Eu, que sou amante de culinária!

Um beijo Querida Azul

Amilcar Garcia disse...

Saludos Gas!:
Me agrada: “Sou a caldeira de um velho navio que vai arrebentar”…Odiar a palavra, reconhecê-la como cárcere, atadura…Não sou livre por ela; escravo sou de sua estrutura… comunicar é bochornoso. A nudez desavergonhada da natureza humana nos faz perguntas e nos enclausura na eterna incógnita. Terminasse tudo isso o dia em que como dizes “abandonemos” à batalha?...

Gasolina disse...

Hola Amilcar, que tal?

Si, yo me siento prisionera de todas las palabras. E de todas las formas me gusta. Porque?
No lo se.
Es una barbarie masochista (es asi que se escribe?).
Que resta? abandonar la guerra?

Besos para ti que me entiendes siempre.

Laura Ferreira disse...

faço minhas as palavras da minha querida Marisa... pois se foi com ela que cheguei a ti e tu se calhar chegaste a mim por causa dela... não sei, não interessa. gosto muito das tuas palavras...

Gasolina disse...

Laura,

A Marisa foi a ponte que aconchegou duas margens.
As tuas servem-me como de mim e pelo que dizes as minhas ajeitam-se a ti.

Não interessa, tens razão.
Gosto muito do que te leio.
Obrigado Laura.

Um beijo