Alguém me escrevia hoje que tinha pendurado um sonho, pareceu-me uma coisa inesperada, um prego rombo martelado com uma pedra na emergência da situação, e os dedos feridos na pressa de terminar a tarefa e seguir caminho mancharam a parede tingida de cal muito branca e rugosa. Furou-se o papel do sonho, um fio de vermelho a anunciar eu estive aqui e tenho um sonho, espera que eu volto, não te deixes romper nem roubar, espera-me, se o vento vier balouça de mansinho mas adoça-te à parede, eu volto para te agarrar.
Li as palavras duas, três vezes, amparei o rosto às palmas das mãos e pousei os cotovelos sobre os joelhos.
Procurei pelos meus sonhos e achei logo ali muitos, uns quantos de igual pendurados, com marcas de feridas a sarar de tanto tempo havia passado, outros caídos e rasgados sem préstimo de leitura, ainda um e outro que deixaram de ser, soprei-os.
Li as palavras de novo e pensei que a vida não pode interromper o sonho pois ser capaz de a sonhar já é um tanto, outro universo.