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sábado, 27 de setembro de 2014

Chegar aqui (à árvore)


 
 
A correr cheguei à árvore, quase sem fôlego, uma pressa de a abraçar e de lhe sentir o campo húmido das chuvas recentes, essa honestidade pura e sossegada que me pacifica, lava de pecados, condena sem contemplação os erros que cometi, o tronco rugoso a magoar a pele do rosto abraçada e as mãos envoltas sem tamanho, saudades, confissões, murmúrios, o silêncio.
Um melro tão negro como a noite chega para conversar, um bico amarelo tagarela que se aproxima saliente e desavergonhado, as folhas da árvore tombam-lhe no carvão das costas e contrariado vai-se.
Rio. E depois já não.
Gostava que a árvore me contasse uma história para eu adormecer como nos contos de histórias.
E eu era pequena, pequena de pequenina de precisar dar a mão para subir e descer e não sentía saudades de ninguém porque tinha todos ao meu redor e ninguém me fazia falta. Nem mesmo a árvore porque árvores eram desenhos que eu fazia em folhas de papel que me davam para eu estar feliz.
Talvez tenha fechado os olhos por segundos, adormecido, sonhado com pássaros, um melro quiçá, há quem explique o significado dos sonhos, eu cheguei à árvore é o que me chega para ver o azul do céu.
 
 
 

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