Ordeiramente, em fila, respeitosamente, com salvação alguns, outros de sorriso incluído, vai-se ouvindo um som idêntico a um relógio de ponto à entrada de uma fábrica, validam-se pontualidades, há quem saiba os horários na ponta da língua e tire disputas com o funcionário sobre um minuto de atraso ou de avanço, vamos lá a ver, arrancar antes da hora? Depois?
Já no assento e agarrados à pega do banco da frente para evitar ser catapultados, trocam-se experiências sobre motoristas rigorosos e horários desregrados, curva e contracurva, metade do diálogo perde-se no soluço dos buracos e no pedido das repetições porque nada se entende e no final de dez minutos de trajecto a gritaria é tanta à mistura com os motores da viatura que se pressente estar à assistir aos Canhões de Navarone ao vivo.
O entusiasmo da clientela gera o desagrado de uns quantos mas o fascínio de outros, apetites de quem deseja partilhar as suas próprias informações. E daqui nascem novos conhecimentos.
No dia seguinte encontram-se, cumprimentam-se, sorriso aqui, aceno ali, junta uma palavrinha, uma concordância, confessam o mesmo infortúnio e em menos de um fósforo fazem-se amizades por anos.
O destino escolhe caminhos estranhos sem dúvida.
(in As fantásticas aventuras do C782, Agosto 2014)
(in As fantásticas aventuras do C782, Agosto 2014)
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