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terça-feira, 2 de setembro de 2014

Jogos



 
Resolvi sentar-me de lado e observá-la,  como é possível alguém conseguir permanecer ausente e num estado absorto com outro tão perto e focado sobre ele, senti-lo a respirar e aspirar cheiros e escutar sons e pequenos gemidos, flexões de mãos, estremeções sem dar conta de nada?!
Quase um coma.
E no entanto há ali vida. Vidas, uma agitação nos olhos, de lá para cá vi sob as pálpebras os berlindes dos olhos a rebolarem sob a pele fina numa convulsão como se olhassem uma cena de que nada quisessem perder... tentei acompanhar. Rápidos, muito rápidos, para o lado onde eu dirigia os meus assim eles se movíam. Recuei suavemente. Cautelosamente e sustive a respiração. Ficaram estáticos.
Aproximei o meu rosto, o hálito quente acelerou e voltou o corropio dos olhos e as mãos abriram, devagar, os dedos esticados num movimento doce como se quisesse oferecer-me qualquer coisa.
Não percebi, toquei com o meu indicador ao de leve na polpa do dela, encolheu-se como um marisco fresco, tapei o nariz para não fazer barulho a rir e acordá-la, que susto!
Experiência!
Outra vez!
Toco de novo e ela recolhe o dígito, rio para dentro, tapo o nariz, que graça eu acho a isto, repito a dose, toco e ela agarra-me o dedo, que susto!
Segura-me a mão, o pulso, as mãos, tem os olhos abertos!
- Anda dormir que é tarde e pára com as brincadeiras, só o corpo a descansar não chega, a alma também precisa...
 
 

2 comentários:

Teresa Durães disse...

A distância que se sente na ausência do espírito no corpo. Será? Não?

Gasolina disse...

Olá Teresa.

Também.
Mas aqui é muito da sensação que há vezes se tem (eu tenho) que se assiste ao próprio, que se sai do corpo e de parte nos vemos a desempenhar um papel.

Mas provavelmente, serão devaneios só meus.