Na passada larga que levava nem ligava, não fora o monte de ervas agarradas a um tufo de terra húmida e escura a caírem-me no alto da cabeça seguia o meu caminho e não olhava, não ligava já disse, aí olhei e liguei, mirei o escorado carcomido do tijolo e as janelas, as portadas, os vasos de sardinheiras espertalhonas e atrevidas, uma brejeirice cuja mão não apanhei de tão rápida se escondeu para dentro, bati palmas e chamei Ó de casa, mas o de casa era fundo e escuro e os meus bicos de pés empoleirados no mais alto que me estiquei só atingiam a descoberta dos meus olhos às janelas em sítios onde dantes houvera muralha e em porta onde outrora fora sitio de pequena janela. Ruído nem senti-lo, só o escárnio do sangue das sardinheiras e este a mim arrepiou-me os cabelos sujos da terra que me parecia criar raízes para dentro, tal não era a curiosidade do desaforo, janelas abertas, portas cerradas, ladrão serei eu no peito se a vontade me aguça o temor, dizia-me a comichão a crescer, acerquei-me, ai tanto vaso, tanto flor!
Tanta dor!
Na passada larga nem ligam. Bem que os avisamos quando passam e lhes atiramos com um monte de terra para que não se cheguem. Que as sardinheiras cada vez se tingem mais de quem lhes toca.
(in Portas & Janelas, Abril-2014)
Todas as fotografias da Colecção Portas & Janelas são da autoria de Eduardo Jorge Silva
Todas as fotografias da Colecção Portas & Janelas são da autoria de Eduardo Jorge Silva
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