Bufa o motor, bufa o motorista a olhar para o relógio, bufa a senhora no bico dos pés a correr estrada fora, sacos e saquinhos, descabelada pelo destempero da hora e desespero da eminente partida, acena, último fôlego para o salto triunfante e dentro do transporte conquistado sorri largamente para se ajoujar de joelhos num rasgado obrigado.
Implacável, a curva feita a preceito, não distrai o profissional para o retorno do agradecimento e a passageira aos tombos lá se acomoda entre o corpo e a bagagem, os varões e os demais encontrões nos passageiros num assento que encontra vago.
Recompõe-se, pega conversa já começada, são todos colegas - chamam-se clegas entre si - abrem ali mesmo o expediente e dão inicio ao serviço, ratam deste e daquele, organizam ficheiros e comentam o que está em atraso no gabinete de fulano e do Dr. não sei quantas, lastimam o horário e dos subsídios não pagos desde o ano passado, dos últimos reformados, dos processos acumulados, dos bons velhos tempos nos velhos edifícios que desde que se mudaram nunca mais foi o mesmo, agora até têm de levar almoço já feito e correr e caír, vejam só.
Profissionais que são para o País que servem, se entrassem de greve é que era, havíam de ver...
Dizem até amanhã ao motorista, este vigia o relógio, arranca a toda a brida.
(in As fantásticas aventuras do C782, Outubro 2014)
(in As fantásticas aventuras do C782, Outubro 2014)
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