Na verdade nunca troquei uma só palavra com ele, mesmo quando nos cruzamos próximo no passeio cada um no seu sentido apressado, um meneio de cabeça é quanto basta e vamos à nossa vida e estou certa que a simpatia que lhe tenho é a mesma que me reserva, largamos o antipático nas costas um do outro e seguimos e não nos lembramos mais da existência de cada um, vizinhos do mesmo bairro.
Mas ouvi-lo hoje a falar, voz mansa em diálogo prolongado que me fez pausar os passos e curiosa rodar a cabeça, parar e admirar a conversa entre o trombudo e um gato vadio, levou-me a engolir em seco, vontade de lhe tocar as mãos que entretanto seguravam o felino delicadamente junto ao peito.
Ele olhou-me.
Naqueles segundos, todas as palavras fechadas na boca se desprenderam e um sorriso tocou-me em silêncio. Naqueles segundos, o rosto impenetrável encarou-me como sempre, mas eu senti-me iluminada.
Na verdade, nunca diremos nada um ao outro porque não é preciso.
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