O mal da solidão que aconchega por vezes ombros rodados à frente, é que até nesta se é sózinho na revolta, não havendo outros a quem degladiar palavras ou bater pé, defender posição ou arrear argumentos, cresce na ira a figura de nós mesmos e no basta, acaba o tumulto a quebrar espelhos matando o que somos para acabar com os outros.
Mal dos males, que logo que os estilhaços se aquietam no som do vidro partido assim o feitiço se quebra e a lucidez do silêncio devolve não a imagem una mas muitas e deformadas, olhos que nos olham de cantos e diagonais, esquinas mal dobradas a espreitar um descuido, nunca fomos um só, apenas libertámos os que contidamente chamávamos solitários e ignorávamos para nos manter civilizadamente distantes, quase tristes, epopeia sem direito a registo nem lamento conhecido, e no entanto, os cacos de tantos.
(Lx.,30-04-2010)
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