Ouço as horas esmagadas pelo pêndulo do relógio centenário, que rápido aqui cheguei e ainda noitinha, há um minuto era Janeiro e as cores que esvoaçam restolhadas pela rua feita dourada e vermelha não existiam, era tudo nu e lavado e sem som, os pássaros apressam-se e distraiem-me ao tentar segui-los para não correr atrás do tic-tac do tempo mas a cabeça volta ao peito e os afectos abraçam-me pelo dia a vir.
Amanhã será dia de ontem, dia de tantos passados, a árvore sozinha enxertada de outras antigas que lhe deram seiva, e ainda assim o gosto à boca desses sabores de cada uma, únicos.
Quase medo, quase não saber talvez, terei eu gosto único?
Mais uma hora de meia que se amassa e os pássaros silenciados pelo meu pensar, a claridade do dia a romper aquieta as folhas pelo chão manchado e os contornos da árvore trazem-me da nitidez do rosto da saudade o entender do paladar desta dor no peito.
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