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Reaver palavras, perder horas nas linhas e achar prazer até querer o fim sabido, procurar como uma vida de alguém que se descobre no parentesco romanesco e aventureiro de uma árvore genealógica e que fascinante, nos leva a brancas noites imaginando traços e voz, trejeitos e odor.
Ver o desenho da sua letra e passar-lhe o dedo e alguém dizer "quando tu escreveste isso.."
E tu sou eu.
E eu desmorona-me ali à minha frente em negra areia, descabimento de palavras ditas, pois se nem eu conheço tal autor, não me lembro, escreve melhor que eu e a imagem que havia feito que faço agora dela - em mim?
Esse outro de mim que tão melhor o faz e me encanta, envergonha-me.
Que devo fazer?
Reaver palavras para não voltar a escrever?
Perder o prazer de ler o outro?
Que raio de umbigo é este que me sai pelas costas e não me atarracha?
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(in O céu da boca (Palavras Reencontradas), Fevereiro 2014)
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