O músico de rua toca as moedas que lhe atirarem e a acústica das paredes devolve-me a branco e negro o tecto do mundo, talvez chova, tem de chover para me acompanhar, as mãos nos bolsos já não te acham mais e mesmo que finja encontrar-te em cada casaco escuro na multidão vou parando nas vitrines das montras à procura do meu próprio reflexo.
Anagramo, arranjo forçados sentidos a palavras, mora, roma, amor, desfazem-se montras, a mulher de joelhos em oração mas são minhas as preces, não pedi ao músico de rua que tocasse Cure e o dedilhar do refrão fere-me a transparência das memórias no estilhaçar de árvores estilizadas que se decalcam em mim como se eu fora elas e tu uma invenção.
A austeridade do edifício no ângulo do vidro ferem-me a realidade do final dos acordes, tiro do bolso a fotografia que me ofereceste e deixo-a na caixa do músico.
Foto de João Domingues
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