Dei comigo a pensar em palavras que escrevi há muito tempo e por uma qualquer razão, arrumei-as, não que me tivesse zangado com elas ou que me envergonhassem, tão pouco foi coisa sazonal de achar que as pondo a dormir me haveriam de servir num dia de chuva, não, simplesmente guardei as escrevinhações junto com outras, algumas do tempo da Versailles, e não voltei ao assunto.
Acho que as esqueci.
E hoje deu-me para isto, um formigueiro na memória a recordar cada um dos tempos cuspidos, vírgulas e pontos, e agora tão claro como a água, entendo, entendo-me lá naquela época e debruçada sobre o caderno, cabelo preso na orelha, a fúria ao fechar a gaveta da secretária e a caneta a secar-se no parágrafo final.
Quando as páginas brancas se alagam e reflectem como um espelho, não há outra mão senão a nossa e ali, era eu.
in O céu da boca (Palavras Reencontradas), Janeiro 2014
Sem comentários:
Enviar um comentário