Preparo o cenário: Tenho os cigarros, o cinzeiro falhado, a manta coberta de pelagem, o elástico no pulso, o caderno e a caneta de tinta permanente, chamei o gato mais gordo que se alastrou no regaço numa mancha alaranjarada arfante marcando o ritmo das teclas premidas ao som da memória dolorosa da imagem que vou acompanhando nos goles do café instantâneo rasgando mais um pedaço da úlcera ou das papilas gustativas no fundo do travo, não sei, que interessa, há pressa, não quis gastar tempo do tempo que ganhei quando apareceu o clarão da lembrança, aqueci água, uma colher de um granulado de terra seca, cheira a café, faz de conta que é.
As palavras vão-se despindo, eu vou tirando peças de roupa, tantas por aqui as que despojei na simplicidade de dizer o que dizer apenas sem atavios de outro contar, resta-me a pele, um pequeno golpe e sai tudo de uma vez, um fato completo sem truques de fechos complicados, botões, laços, agarra-se uma pontinha e sai, afinal são só palavras, no final é só isso que fica, é só disso que agora construo essa memória de um filme que revivo, revisitar sentires nas palavras buscadas.
Deixa-me um sabor horrível, contentou-me o engano do quente e o olfacto cego.
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