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segunda-feira, 7 de outubro de 2013

A tontura



 
Levou-a pela mão com cuidado, os olhos fechados a pedido e o sorriso sempre a perguntar se já podía abrir, ainda não, um pouco mais e ainda mais uns degraus a subir um pé à frente do outro, tantos que parecíam levar ao céu de um ar morno e doce, cheira a açafrão e canela e a gengibre, uma tontura leve, é dos olhos tapados, um pouco mais, onde me levas tu já estou a ficar aflita, já podes.
O estalo da luz fê-la recuar, abanar, levou as mãos ao varandim, sentiu as cores a atacarem-na e a baterem-lhe no rosto como asas que se enxotam e ficam presas no cabelo, dobrou-se, o chão subiu-lhe até às pupilas e faltou-lhe o ar no imediato vazando-se como uma onda recolhida que se prepara para ganhar força para o derrube, onde estás, estou tonta e não consigo andar, cravava os dedos até se embraquecerem nos nós e vergava-se em duas pendurando o oiro do cabelo, o fundo a comer-lhe as faces no ladrilhado que se misturava ininterrupta e caleidoscopicamente entrando pela boca e nauseando entranhas, onde estás, leva-me daqui, e tudo subía e descía vertiginosamente sem lhe dar espaço de acerto, ohh é da emoção da surpresa! sem solidez de pé, as mãos suadas a escorregar no descompasso da respiração já gritada não! tira-me daqui que caio! e o riso dele ecoado como vários que rissem à vez de muitos cantos, mais, cada vez mais que se rasgavam em outros e lhe fazíam tremer pernas e tórax como a pele de um tambor rufado e das forças não restando coisa que não fosse a sua vontade, libertou as mãos e entregou-se.
Cheira a açafrão, a canela e a gengibre.
 
 
 
 

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