A modernidade do agora e o conforto das teclas quase eliminaram a deformidade do calo do meu dedo médio da mão direita provocada pelo uso da caneta, tempos em que o trabalho manual desta ferramenta e o papel eram indispensáveis ao registo dos meus devaneios, coisa que actualmente, basta ter o telemóvel à mão quando não carrego o portátil para lhes dar vazão.
Confessadamente, não me livrei do caderno. O peso de o saber na carteira ao ombro consola-me a alma quando o apetite não está virado para as máquinas, e basta-me pensá-lo e lembrar o seu cheiro para que todas as palavras se fixem dentro de mim sem precisar da tinta azul para o desenho. É uma espécie de muleta da memória, um avivador do verbo, um treinador dos sentidos. Marcá-lo com uma palavra significa desembrulhar uma prenda, uma lembrança de horas pretéritas que trago ao presente corrente, desafiando-me as emoções ou mais complicadamente, cedendo o lugar a outros emprestando-lhes as minhas mãos, o meu ainda resistente calo.
2 comentários:
tão bom...
Olá Alice,
Directamente do outro lado do encantamento para este lado da árvore?
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