
03:05 - Tenho de ir dormir, é forçoso que durma, não devo aqui continuar ou ainda me perco esta noite.
05:26 - Já dormi, agora posso voltar e ficar e escrever.
06:00 - O café esfriou, sabe mal, devo fazer um novo que me mantenha os olhos abertos para achar as teclas, para que preciso eu de letras impressas em teclas se sei o caminho delas mesmo às cegas e mesmo sem escrever tenho fiadas de palavras que dobo, dobo sempre numa tarefa sem fim à vista, páginas que carrego onde quer que vá.
06:10 - Os pássaros. Em breve manhã solta.
06:30 - Tenho frio nos pés, calor nos olhos.
06:31 - O gato quer leite e o cão quer rua, eu quero dizer que continuo às voltas com tantos, um baile que cansa e envenena, sei que faz mal e vicio-me em pensamentos sobre a última vez ser à minha ordem.
06:55 - De repente o sobressalto do branco, encharco-me em planos leitosos, não sei se durmo-se escrevo-talvez sonhe com narradores que me lêem alto para me manter acordada.
07:15 - Que aconteceu, para onde foi a noite, as minhas palavras, o tic-tac que ritma os dedos na emergência dos sentidos, eu toda dormente, eu sem tempo de dizer que o há.
07:17 - Matei-o.
07:18 - Não me arrependo, mas claro que me arrependo, preciso do tempo para me queixar dele, para me dar ao gozo renovado de o matar tantas quantas vezes a transgressão das palavras for o coração à boca, o vómito, a explosão do que sou em partículas suspensas nos minutos contados pela vida.
07:30 - Durmo, sossego, tanto sossego nesta paz...