
De nada suspeitei, entrei pelo dia como quem deseja que a noite ainda lamba paredes e desenhe monstros nos objectos familiares que nos guiam a mão às escuras. Como de costume não fiz parágrafos com travessão, mantive-me na mutez que se incomoda com saudações ruidosas e sempre prefere os cinzentos ao acordar.
É assim que somos, um dia som, um outro pedra.
Sem voz, sem suspeitar que o roubo perfeito actua na insensibilidade do adivinhar.
Porque não quis dizer não me fez falta, acomodei-me à nova situação afónica, entoei músicas para dentro e até acompanhei com o bater leve do calcanhar, resolvi obrigados com um jeito de cabeça e um sorriso apertado aos dentes. Se estava sem voz, melhor fechar a boca, não vá esta ter ficado entalada como resto de refeição mal escovada e aproveitar a escapatória para se fazer a novo dono.
De nada suspeitei, já o disse, nada me doía, talvez sempre tivesse sido assim e só naquele dia a revelação se iluminasse.
Mantive secreta a condição, falei pelos olhos, pelas mãos, pelo encolher de ombros, eu quero lá saber que achem estranho eu não dizer nada.
Já se passaram uns dias... desde o dia em que o caminho limpo se manchou na folha de plátano vermelha. Castanha. Ouro.
OH
E fiquei de boca aberta, o Outono, o Outono, o Outono que eu gosto!
Guardo a folha espalmada no caderno.
Para quando tenho saudade da minha voz de menina.
1 comentário:
A fã nº 1 se pronuncia: como escreve essa menina!!!
Beijocas!
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