Agora tenho frio. Muito. Sopro na concha das mãos, amornando um nevoeiro branco, denso, que envolve a cidade e disfarça as árvores galhudas em edificios fantasmas, os faróis dos carros em enfeites de pré-natal.
Agora farejo um fumo cinza, mascarrado de castanha assada, o pregão do amolador mais o do vendedor piam escondidos nas abertas de água gelada que impiedosamente tomba sobre quem corre à procura de refúgio.
Agora, em peúgas de grossa lã consolo nas vidraças riscadas a chuva do lado de lá, as papas de aveia misturadas na casca do limão, que este amarelo lembra o sol, a canela traz-me o sonho de outras latitudes e o dedo que guia estas estradas escorregadias desenhadas no negrume do céu, imita vagas e adamastores.
Agora embrulho tudo na minha memória e sou pequenina outra vez.
Para onde foram o frio, a chuva, o aconchego de casa, o colo da mãe?Basta apenas fechar os olhos e tão perto como nunca sinto a aspereza da fazenda molhada, o morno do banho quente, os vapores de eucalipto, as mezinhas de bem-fazer...e quanto mais o tempo avança e eu me distancio de farrapos de lembrar, mais perto fica a saudade e mais sonho com a minha infância.
(C.G., Novembro 2005)
12 comentários:
Agora embrulhei-me com as tuas palavras, porque aqui está frio, e muito, e aqueci-me no recordar da minha infância. Obrigada.
beijo levado pelo Reno, aqui tão perto
marisa
Marisa,
A infância tem sempre esta comunhão, não é?
Une, abraça e aquece.
Um beijo.
PS.: Aqui frio sim, mas muita água e trovoada que eu tanto gosto.
Ola. Bom dia
Está mesmo frio, mas a recordação por vezes aquece a nossa alma deixando um suave calor da nossa infãncia.
Amizade
LUIS 14
Agora é passado e presente, agora é gente, qual pau de canela, ramo de limão em repasto morno de vida abraçada que não escolhida.
Lindo!
Bj.
É bom transportarmo-nos para quando eramos crianças. Fazer lembrar esses belos tempos e momentos.
Este texte reporta-nos para essa infância.
Um beijo
Gas,
recordar é viver.
Aqui hoje teve muito, muito, muito frio, mas da minha janela tive o prazer de nuns minutos a relva verde se tornar branquinha, ainda ficou uma camada de uns 4 cms de granizo. Adorei mesmo, fez-me lembrar quando tinha 6 anos e ao entrar na escola o frio era tanto mas eu estava contente de ver tantas bolinhas brancas .-)
Jito,
Sony a saborear um chá de alcaçus, rosmaninho e canela, sente o aroma :-)
Luís XIV,
É verdade.
Nem que seja com uma lágrima a espreitar.
Fica bem
Mateso,
Isso é bem verdade: tenho abraçado a vida e não me posso queixar que ela retribui.
Obrigado por tão belas palavras.
Um beijo
JC,
Recordar a infância ajuda muito nos dias cinzentos, aporta um arco-íris que suaviza o tempo dos "crescidos".
Abraço a ti.
Sony,
E como se dá uma formiguinha a derrapar no granizo? Tantas patinhas na neve...
Eu tenho saudades de mantos brancos, muitas, de correrías e tombos, nariz vermelho, dedos dormentes, lágrimas de frio e tanto calor por dentro!
Um beijo Formiguinha!
E acompanho-te nesse chá, para mim com uma rodela de limão.
A INFÂNCIA RECORDADA, AQUECE E MUITO O CORAÇÃO NESTES DIAS GÉLIDOS E MOLHADOS...
RE-CORDARE= VOLTAR A TRAZER AO CORAÇÃO!
GOSTO DE TEMPO FRESQUINHO MAS ISTO TEM SIDO DE CONGELAR...
PARECE QUE NA INFÂNCIA NÃO SENTÍAMOS TANTO O FRIO! E COM AQUELAS SAINHAS DE FAZENDA E MEIAS ATÉ AO JOELHO... COMO PODÍAMOS ANDAR SEM CALÇAS COMPRIDAS?
BEIJO CALOROSO!
ASPÁSIA,
É OLHAR PARA TRÁS E ENCONTRARMO-NOS COMO OUTRO POR QUEM SE NUTRE CARINHO.
FRIO, CHUVA, TROVOADA. QUE SAUDADES!
POIS NÃO SENTÍAMOS O FRIO, COMO? SE ANDÁVAMOS SEMPRE NA CORRERÍA? EU ANDAVA E CAÍA BASTANTE (TADINHOS DOS MEUS JOELHOS...)
AH! NEM ME FALES!
MAS EU TIVE UNS QUANTOS PARES DE CALÇAS! HORRÍVEIS, DE FAZENDA QUE PICAVA E DAVA COMICHÃO! E QUANDO FICAVAM MOLHADAS? UM DESESPERO...
BEIJO CALOROSO SIM!
E ABRAÇO A CONDIZER, JARDINEIRA!
Enviar um comentário