
Mas ela descontrolada chorava e berrava, dando-lhe palmadas nos ombros tentando afastá-lo para longe de si num espaço onde tal não era possível. E tanto repetiu o gesto que ele cansado de tanta gritaria a ameaçou de pô-la fora e deixá-la entregue à sua sorte ou à sua perícia de nadadora. Como por encanto ela quedou-se nos guinchos e desatou num pranto baixo encostado a ele, apertando-o forte com medo de perder a âncora segura. Ficaram assim, de pé, molhados, abraçados por um tempo indeterminado.De quando em vez um risco eléctrico no céu, logo seguido de um ribombar que fazía tremer a cabine telefónica: nesta alturas ela escondía o rosto no peito dele e abafava o grito do medo. Ele beijava-lhe a cabeça encharcada, os cabelos colados à testa e às maçãs do rosto e num tempo de um relâmpago aflorou-lhe a boca. Ela não o empurrou: deitou-lhe as mãos ao pescoço e pediu mais com o olhar aguado.
Ele repetiu mais uma e outra vez e depois apertou-lhe o lábio inferior entre os seus, sentindo a ponta da língua dela, quente e macia a tocar-lhe; segurou-lhe no queixo e beijou-lho, depois os olhos, o lóbulo esquerdo frio de tanta chuva e voltando à face mordiscou-lhe o nariz, puxou-lhe o beiço superior chupando-o entre os seus. Ela estava silenciosa, estranhamente calada e a fitá-lo séria.Perguntou-lhe então se iríam morrer. Ele soltou uma pequena gargalhada e disse-lhe que esperava que não, não naquela noite pelo menos. Ela mantinha a mesma expressão grave, e de olhar decidido e vontade definida, disse-lhe que quería que ele a tomasse. Ele ficou surpreendido com o pedido e durante alguns segundos não soube o que dizer. Ela não hesitou, tirou as cuecas e largou-as no chão alagado que de imediato pela força da corrente arrastou a peça de roupa pela frincha da porta para destino desconhecido. Ele não sabía o que fazer mas ela colou-se num beijo profundo à boca dele ao mesmo tempo que o tocava no peito, deslizava as mãos até às nádegas molhadas, por dentro dos bolsos das calças, correndo o fecho para baixo e descobrindo guardado aquilo que desejava.Ele retribuiu o agrado, primeiro em toques envergonhados apenas sentindo a roupa colada ao corpo dela mas quando realizou que ela estava desnuda por baixo, um fogacho pareceu tomar-lhe conta da iniciativa e pegou-lhe ao colo, passando as pernas dela pela cintura.Ela abanou as pernas e os sapatos soltaram-se, apoiou os pés no telefone público e num exercicío gímnico fez pressão com as palmas das mãos nas paredes de vidro da cabine; ele amparou-a pelas costas junto às ancas, onde a saia se enrodilhava como um trapo. Deixaram-se ir ao compasso da tempestade e quando ele pensava que o trovão se abatería por cima da sua cabeça ela atrasava o tempo entre o fulminante e a descarga, como um comando que dirigia ao sabor da intensidade da chuva.Até que ela soltou um grito prolongado, aberto e agudo, ecoante no escuro. Também ele gritou, soçobrando, quase a largá-la daquela posição instável, e ela voltou a gritar e ele novamente em uníssono com ela.Calaram-se aos poucos, o coração aos solavancos, descendo à terra, caíndo na realidade do encontro insólito. A trovoada havía desaparecido e a água agora limitava-se a uns salpicos frios. Começaram a aperceber-se do mundo para lá da cabine telefónica. Havíam carros parados com passageiros que tentavam ver dos vidros embaciados a altura das águas, pessoas que surgíam não se sabía bem de onde. Ele abriu a porta deslizante do abrigo improvisado, ela olhou-o séria e saíu descalça. Ele chamou-a mas ela não se voltou para trás nem lhe deu resposta. Ficou a pensar quem sería aquela mulher, se chegaría a casa, onde moraría... que gostaría de a encontrar de novo.Como o flash de um relâmpago veio-lhe à memória que ela não tinha cuecas e sorriu, sentindo-se feliz sem saber bem porquê. Ao longe ouviu um grito distorcido pelas buzinas de trânsito que entretanto recomeçara caótico e riu.
(in Contos da Fogueira, C.G. - 31/10/2005)
17 comentários:
olha lá, que tipo de adubo é que usas??? é que passar de flor a árvore não é para qulaquer um... ou qualquer uma :)
bem, que feliz fiquei quando vi que voltaste.
Ainda não li nada do teu blog, ando um pouco sem tempo.
Mas claro que vou voltar com mais tempo e ver tudinho desde o principio .
Beijinho grande
Obrigada por voltares, senti a tua falta.
Vivemos na mesmo, mas hoje percebi que fizeste falta.
Bjsss
UUUUUffffffffa!
Ho Gasolina que texto quente, nem senti mais a tempestade fora da cabine:-)
Que chama ali dentro, parecia mesmo uma fogueira acesa;-)
...Afinal sempre chegou a bonança;-)
Gostei...os teus contos continuam optimos.Espero que a senhora não seja casada, chegar a casa sem roupa interior ;-)
Nunca mais me esqueço daquele sofá no dentista lol!
Um beijo
Fica com Jesus
Até amanhã!
sony
Conseguiste manter o patamar de qualidade ao longo de todo o texto, o que não é mesmo nada fácil em textos tão longos como os teus, parabéns.
Adoro o finalzinho sádico, adoro!
(e excitei-me...)
Beijo deste teu admirador
Porque não haveria de ser ele a sair, ela a chamar por ele e a interrogar-se se o voltaria a ver?
Até uma tempestade quaisquer...
PS: utuulqlw (para que saibas)
Mtheman,
Não é adubo. O segredo está no estrume que alguns ao abrirem a boca deixaram no Flor.
E tens razão não é para qq um. É só para mim.
Calimera,
Obrigado pelas tuas palavras.
Um beijo grande em ti.
Formiguinha,
Fico feliz que tenhas gostado.
O sofá do dentista?! Isso já foi há tanto tempo... ainda era uma flor...
Beijos Formiguinha!
Dias,
As tuas palavras enchem-me de vaidade.
Obrigado.
Aceito o beijo e dou-te outro.
Louco de Lis,
Ora, ora... Porquê?
Porque o texto é meu e quem manda aqui sou eu.
Tempestades? Venham elas!
PS: Encriptado?
UI UI!
QUE CENA TÓRRIDA, A LAS 9 SEMANAS E MEIA!...
EMOÇÕES AO RUBRO DENTRO DA CABINE FOI O QUE EVITOU QUE ELES SE CONSTIPASSEM... E SERÁ QUE 9 MESES DEPOIS "NASCEU UM TELEFONINHO DE MOEDAS" ???
BEIJO FRONDOSO :)
Manias femininas!
Ps: Acertei à primeira
ASPÁSIA,
E QUEM PRECISVA DE UMA CONSTIPAÇÃO COM TANTO RAIO E TROVÃO EM TÃO APERTADO LOCAL?
TELEFONINHO??? NÃÃAAAAAAAA... QUANTO MUITO UM TELEMÓVEL TOPO DE GAMA, BEM FININHO.
BEIJO À SOMBRA DA ÁRVORE.
Louco de Lis,
Não: manias de quem é a proprietária deste sitio.
Louco de Lis,
Parabéns!
(seja lá o que for)
Enviar um comentário